Semiótica das Paixões

O que são as paixões? A semiótica das paixões nasceu junto com a semiótica narrativa para elucidar esse lado obscuro da alma e identificarmos e compreendermos as paixões e seus efeitos e, assim, cientificar e dar sentido à alma do sujeito, através de um esquema chamado quadrado semiótico, que explica a base desta teoria, o simulacro existencial

A semiótica das paixões nasceu junto com a semiótica narrativa para elucidar esse lado obscuro da alma e identificarmos e compreendermos as paixões e seus efeitos e, assim, cientificar e dar sentido à alma do sujeito, através de um esquema chamado quadrado semiótico, que explica a base desta teoria, o simulacro existencial.

Por que criamos Deus?

A “Concessão” vem ser a forma como a nova teoria da semiótica narrativa avança. Antes, com os estudos da ação, os eventos ocorriam de forma implicativa, causa e efeito, mas agora não. O previsível dá lugar ao imprevisível. A narrativa das paixões é cheia de concessões, de ajustes impossíveis, de uma negação ou reconhecimento da verdade.

No vídeo sobre a “Concessão”, que vem ser a forma como a nova teoria da semiótica narrativa avança, antes, com os estudos da ação, os eventos ocorriam de forma implicativa, causa e efeito, mas agora, não. Com a concessão, o previsível dá lugar ao imprevisível. A narrativa das paixões é cheia de concessões, de ajustes impossíveis, de uma negação ou reconhecimento da verdade.

A figura de Deus, que não tem nome nem face, nem “corpo”, é um signo que gera poder somente para aquele que nele “acredita”. Fora da crença, não há Deus. A figura de Deus é uma concessão, porque só serve para um grupo de crentes, e não uma verdade que serve ao mundo.

A semiótica coloca a questão da verdade como sendo um “arco” de um sujeito em sua jornada em busca de uma verdade. Sempre. Mas nós geramos um signo para nos tornar perfeitos, o que em si é uma concessão. Como somos imperfeitos, porque sofremos, e Deus não sofre, porque é perfeito, não tem “fraturas”, geramos para nós, nesta figura, um mundo perfeito que não somos.

Sensação

Nesta abordagem sobre a sensação, a semiótica contribui com uma análise desse tipo de ocorrência no sujeito, nos personagens do filme “Roma”, em prosseguimento às análises na pintura feitas por Gilles Deleuze sobre a obra de Francis Bacon, assim como Merleau-Ponty explorou a sensação na obra de Cézanne.

Nesta abordagem sobre a sensação, a semiótica contribui com uma análise desse tipo de ocorrência no sujeito, nos personagens do filme “Roma”, em prosseguimento às análises na pintura feitas por Gilles Deleuze sobre a obra de Francis Bacon, assim como Merleau-Ponty explorou a sensação na obra de Cézanne.

Para Paul Cézanne, o azul era uma cor mais quente que o vermelho, que combinado com outras cores podia gerar ilusão em nosso olhar e, assim, nos sensibilizar com algo inicialmente desconhecido, mas provido de “sensações”, um objeto sensível para sensibilizar o espectador. Cézanne obtia, segundo Ponty, uma “sensação colorante por meio do azul”.

O que importa, do ponto de vista estético, é que o sujeito agora pertence ao mundo do sensível, e não o objeto, o inteligível. Saímos de um “estado de coisas para um estado de alma” em que o sujeito agora é o elemento sensível através do seu sentir e agir. De suas ações e suas emoções emoldurando uma obra de ficção.

Hermes Leal eleva o semioticista Greimas, em “Da Imperfeição” (1987), ao uma nova dimensão do conhecimento, só entendida agora devido a sua enorme complexidade. Greimas percebeu que a sensação através de personagens da literatura, explorando ao menos cinco acontecimentos em forma de sensações, em textos de cinco grandes escritores (Ítalo Calvino, Júlio Cortázar, Junichiro Tanizaki, Michel Tournier e Rainer Rilke), onde o sujeito é “sugado” de sua cognição diante de um “objeto” admirado, que pega o sujeito de surpresa, quando ocorre a “espera do inesperado”.

Como é o caso da personagem mulher do poema de Rilke, “Exercícios ao Piano”, que, ao ser surpreendida e sugada por um forte odor de jasmim, ao abrir uma janela de seu escuro quarto para um dia ensolarado e quente, recua e recusa a estranha “sensação” de que aquele odor lhe faria mal. Há uma fratura em sua alma, causa de seu mal-estar, que transforma a sensação em uma percepção do que sente sua alma.

Assim como Cézanne e Bacon, que “pintavam o invisível”, Alfonso Cuarón “filma o invisível”, o sensível, através das sensações de seus personagens. A fratura dos personagens, o que causa seu sofrimento, especialmente a paixão da “culpa” em Cleo, é ocasionada por uma sensação, e não por suas ações. Esta semiótica permite adentrar nas camadas profundas dos personagens e perceber como agregam a narrativa em torno de si mesmos, e não dos temas que os cercam.

A personagem Cleo, em “Roma”, sensibiliza o espectador, porque se torna sensível através do que ela sente. Primeiro, uma admiração por um filho, depois, uma vontade de não mais ter o filho e, por último, a sensação de arrependimento e culpa, explícito nas últimas cenas do filme, quando salva a vida das crianças de Sofia, por ter tido sensações anteriores, que não vemos, de desejo e não desejo que seu filho, que nasceu morto, não vivesse.

A semiótica permitiu explorar a própria estrutura da sensação, como sendo algo perturbador, que retira a cognição dos personagens, mas deixando seu sensível aberto ao inesperado, ao que chega sem avisar, e causa uma “fratura”, que chamamos de “acontecimento extraordinário”, que pode resultar tanto em uma “admiração”, quanto em uma “percepção”. A sensação na semiótica leva o sujeito a estas duas direções sensíveis.